A transgressora poética de Gregório de Matos, ameaçada em sua veia satírica pelo “ponto em boca”, constitui-se no grande desafio de nossa literatura colonial. A corrompida política açucareira do Brasil do século XVII é o centro de engrenagem que move a criação do “Boca do Inferno”.
O Gregório Infernal, revelado pelo apelido, está em correspondência direta com a “pedra no sapato” que o poeta representou para os que foram criticados por ele. E não lhe escapou a debilitada Câmara da Bahia, com conselheiros que sequer sabiam “governar sua cozinha”; ou mulatos metediços que subjugavam, em seu desejo de ascensão, os verdadeiros “homens nobres”; o negociante português vendedor de “gato por lebre”, homem desonesto, avarento, cujo “lastro que traz de areia, por lastro de açúcar troca”; o clero devasso, de pouca vergonha, mas de muita astúcia, que infringia a doutrina e suas repressivas leis contra a sexualidade. Tudo isso, “milagres do Brasil são”, diz Gregório. (...)
Trecho de
Autor: Marcus Vinícius
Ano: 1980
Elenco: José Eduardo Arcuri (Gregório), Iêda Alcântara (Maria dos Povos), Robson Terra (Taverneiro, D. Alencastre, Bispo e Senhor de Engenho), Cléber Ambrósio (Caveira, Freguês, Soldado, Almocreve e Senhor de Engenho), Rodrigo Barbosa (Moçorongo, Gonçalo, Thomaz e Braço de Prata), José Luiz (Deão, D. Coutinho e Bispo), Marcelo Gaio (Tio de Maria, Rocha Pita, Soldado e Senhor de Engenho), Ailton Magioli (Pai de Domingos, Manoel Rodrigues, D. Jacques e Soldado), Liana Menezes (D. Betica),
Claúdia Miranda (Narrador), Suzana Macedo (Babu e Freira), Marise Delgado (Joana Gafeira), Chintia Lopes (Irmã Jacinta) e Alice Freesz (Domingos)
Música Original: Marcus Vinícius
Músicos: Márcio Itaboray (Violão), Sérgio Evangelista e Xico Teixeira (Percussão)
Sonotécnica: Marcela Matamoros
Iluminotécnica: Wanda Meirelles
Figurino: Malu Ribeiro
Cenário e Direção: José Luiz Ribeiro