Não falta em “Grito Mudo” a denúncia. Denúncia do estoicismo de toda uma sociedade diante de crimes que a cada dia passam a ser mais freqüentes e, como tudo que é designado comum, suportados, aceitos ou chamados, por comodidade, de “problemas sociais”. Nos acostumamos a ver o mundo como uma conturbada vitrine, um mostruário de novidades distantes e distanciadas. A tela de TV toma a forma de escudo protetor às violências e barbaridades cotidianas que nos são apresentadas dramatizadas e produzidas.

Não falta em “Grito Mudo” a constatação. Constatação da semelhança entre os personagens da peça e nós mesmos. Não são abstrações, são pessoas comuns, com procedimentos comuns e nem sempre corretor. G.B.G. não é nenhuma mártir ou heroína idealizada, mas uma menina de 16 anos, como tantas outras, apenas teve coragem de levar o seu drama a público em defesa de futuras vítimas. Sua posição social, que poderia diferenciar das demais, foi irrelevante na hora do crime, desmitificada por ela durante o interrogatório que se sucedeu e usada com dignidade como chance de voz para que a sociedade tomasse consciência do absurdo contemporâneo e levasse à discussão, em profundidade, o problema do estupro. (...)

Trecho de Cinco palavras, de Rogério Corrêa