"Il Teatro Comico é mais do que uma comédia divertida do grande Carlo Goldoni. É, também, um convite à reflexão, sobretudo para quem faz ou aprecia a arte. Ali está uma espécie de testamento de um autor que sempre remou contra a corrente, um rebelde que recusou o caminho fácil do sucesso pela repetição de fórmulas que funcionam. E que fórmula tinha em mãos!Era Veneza, centro irradiador do melhor produto de exportação literária da Itália: a commedia dell’arte e ele já havia escrito partes para vários autores. Dominava, portanto, o gênero.

Em vez de colher o fruto maduro, preferiu plantar e regar. Levantou a ira dos contemporâneos e brandiu o chicote contra a vulgaridade que agradava. Exigiu dos atores a criação do caráter dos personagens, recusando o tipo caricatural e de fácil representação. Exigiu que a encenação deixasse o cenário da praça, funcional para o encontro de várias máscaras, e reclamou pela lógica de ação. Por outro lado não perdoou, também, os eruditos com ranço renascentista, que vociferavam máximas ouvidas à distância dos dois falares: o erudito e o vulgar, e trouxe à cena a língua falada com seu caleidoscópio de dialetos. (...)

Trecho de Um belo puxão de orelhas (pág. 15).